terça-feira, 3 de março de 2015

GUERRA sem batalha ou agora e por um tempo muito longo não haverá mais vencedores neste mundo apenas vencidos

"Sabendo que o pão de cada dia da revolução é a morte de seus inimigos...
Sabendo que ainda precisamos arrancar a relva para que o verde permaneça..."
heiner muller

Assisti duas peças esse fim de semana no Centro Cultural da Vergueiro. 

O Centro da Vergueiro deve ser um dos espaços públicos mais usados de são paulo, além da biblioteca, da gibiteca, shows, exposições e teatro, o espaço como um todo é ocupado por reuniões de grupos políticos, jogadores de xadrez, mahjong, rpg e diversas outras coisas, além de dançarinos de todos os ritmos que aproveitam os vidros do local como espelhos para seus ensaios.

É legal ver um espaço como esse que é plenamente funcional e vale a pena falar na questão do espaço justamente porque ele torna possível a existência da peça Guerra sem batalha ...

Essa montagem feita pela Cia. Les Commediens Tropicales e o quarteto À Deriva  é uma das coisas mais diferentes que eu vi nos últimos tempos e provavelmente continuará sendo por muito tempo, pelo menos em termos de teatro. 

A peça não ocupa nenhum dos teatros do CCSP e sim um espaço anexo, uma área imensa no subsolo do Centro, ao lado da biblioteca e em torno de uma das salas de espetáculos. 

Nesse espaço gigantesco rola essa coleção de fragmentos simultâneos que são uma livre adaptação da autobiografia de Heiner Müller, Guerra sem Batalha

É meio difícil de explicar em texto a proposta do grupo. No vídeo abaixo, onde eles falam um pouco sobre a peça, o grupo diz que não se trata de um teatro itinerante (onde o público segue o grupo pelos diferentes espaços) e sim o que eles chamam de superfície de eventos, porque os espaços são ocupados simultaneamente e o público decide por onde transitar, o que ver. Óbvio que tem ações "mais fortes" que levam o público à acompanhar naturalmente, mas alguns discursos podem ser ouvidos a distância enquanto se acompanha outras movimentações.

O único momento mais tradicional é quando eles encenam a peça Mauser, também de Heiner Müller, em um palco (uma área delimitada com piso de cacos de vidro - inspirado na obra de Cildo Meireles de Inhotim). 

A maior parte de trilha sonora é executada ao vivo pelo quarteto À Deriva - que faz parte da peça como atores também - e vários outros recursos audiovisuais são usados, até um projetor antigo de slides e um fusca.

No geral é um texto bem político (apesar de não ser um tema político que se refere diretamente a nós, pois se trata de algo escrito na Alemanha sobre a vida entre guerras, ditaduras e todo o conturbado contexto de um dos países que foi centro das maiores questões políticas ocidentais da nossa história recente).

Aviso que não se deve esperar uma narrativa tradicional, os fragmentos não se conectam como história em si, mas de forma estética, 

Não vou dizer que será a peça mais divertida que você verá (apesar de que você nem perceber que a peça tem 138 minutos), mas facilmente é uma das mais diferentes que você verá e que só é possível por ocupar um espaço como o CCSP e por receber dinheiro do governo. 

Aliás, a peça é gratuita.

Você pode (deveria) assistir Guerra sem luta... até o dia 15/03 sexta e sábado, às 21h; domingo, às 20h. Os ingressos são gratuitos, mas é preciso chegar duas horas antes e pegar assim que começam a distribuir. Uma hora antes o espetáculo já está esgotado. 

Mais informações aqui





A outra peça que eu vi foi Animais na Pista, essa nem vou comentar muito, já encerrou a temporada e sinceramente, não é nada memorável. Tem até uma cenografia elegante, mas o texto, a direção e os atores ficam um pouco aquém. 



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