segunda-feira, 9 de março de 2015

killer joe

Esse fim de semana vi duas versões da mesma história: Killer Joe.

Primeiro assisti a peça dirigida por Mário Bortolotto com sua trupe do Cemitério de Automóveis. 

Depois eu vi o filme que inspirou a peça (lembrando que o filme originalmente foi inspirado pela peça de mesmo texto de Tracy Letts) que tem o grandioso Matthew McConaughey no papel de Killer Joe.

Primeiro é preciso dizer que é uma história de narrativa bem tradicional: um planinho de um filho que precisa de dinheiro e para isso decide matar a mãe e ficar com o seguro. Pra isso ele, a irmã, o pai e a madrasta se envolvem com Killer Joe, um policial que faz "bico" como assassino de aluguel.

Como sempre nas histórias de planinhos tem uma sequência de erros, azares e viradas na trama. Assim a força da obra não está na trama - existem infinitas tramas parecidas e a maioria muito mais elaborada que essa - e sim na montagem e nas atuações.

Primeiro vamos falar sobre a peça.

Bortolotto montou uma sala bem interessante na Rua Frei Caneca no "baixo Augusta". A sala é pequena, com uma plateia bem reduzida que enche facilmente e com a primeira fila diretamente no chão do palco. Essa proximidade é bem interessante, deixa tudo mais intenso e a platéia assisti tudo praticamente dentro da sala do trailer Ansel Smith.

Obviamente o grande destaque da peça é o peculiar matador interpretado por Carlos Carcarah. O personagem se apaixona por Dottie Smith, uma garota bem diferente, com algum nível de deficiência para se relacionar com o mundo, e a pede como sinal pelo serviço. No dia que eu fui Dottie foi interpretada por Gabriela Spaciari que trabalha muito bem.

Um personagem que deveria ser quase paralelo mas que fica muito interessante por conta da atuação de  Fernão Lacerda é o sempre alheio e meio perdido Ansel, o "pai" na história. É muito curioso como ele sempre está meio distraído, sempre imerso em cerveja ligado mais na tv do que na confusão rolando. 

O grande momento da peça, o que realmente faz valer ir até o Cemitério de Automóveis para assisti-la, é a cena final. O desenho do cenário é perfeitamente distribuído para que se possa entregar uma cena muito intensa e absurdamente violenta.

No geral não teria nada demais na história, nada que justificaria ir até o teatro ao invés de apenas ver o filme. Mesmo a dramaturgia, quem já viu algumas peças de Bortolotto identifica facilmente as técnicas dele de narrativa e direção. 

O grande diferencial,  como disse antes, o grande valor da peça como experiência, está realmente na última cena e na energia com com que ela é feita, aquela energia que enche a pequena sala do Cemitério é o que torna essa peça uma experiência que merece ser vivida.

Sobre o filme, se você tiver a oportunidade de ver a peça, pode pular o filme. O que foi cortado do filme para caber em um único cenário é realmente desnecessário e acaba até diminuindo a trama. O filme em si só vale por conta de Matthew McConaughey. É uma história razoavelmente interessante, mas obviamente o filme não tem a potência da peça.

O Teatro e Bar Cemitério de Automóveis fica na Rua Frei Caneca, 384 e a peça é exibida Sextas, sábados (21h30) e domingos (20h30) até 29/03, mais informações aqui.





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