terça-feira, 17 de março de 2015

O Professor

"literalmente (...) refugiou-se em uma ideia, que é sempre o melhor lugar para se esconder"

Sou um grande fã de Cristovão Tezza, gostaria de poder dizer que sou fã hardcore - ou hipster - o suficiente para conheço seu trabalho desde antes de O Filho Eterno, mas seria uma mentira. 

O Filho Eterno trouxe Tezza de volta ao holofotes e talvez com um destaque que ele nunca tenha tido antes e isso é plenamente justificado, pois é um livro lindo. 

Depois desse livro passei a ler tudo que ele publicava com muito interesse, até O Espírito da Prosa, um livro de não-ficção dele eu li e gostei bastante.

Terminei hoje cedo de ler O Professor, demorei um pouco, alternei entre outros livros, o problema - usando aquela velha desculpa de fim de namoro - não é ele, sou eu. Estou - e isso já tem um tempo - em um momento que quero me divertir, quero ler coisas que antes de mais nada me entretenham. 

Tezza é, de certa forma, um entretenimento, mas por outro lado tem aquele fundo de livro que te faz se sentir "mais inteligente". É inevitável aprender algo com Tezza, com seu estilo, sua elegância, você lê um livro como esse e naturalmente se torna uma pessoa "melhor" - nem que seja um fração a mais de conhecimento que você ganhe. E eu não estava tão afim de me tornar "melhor", só queria um tempo mais agradável.

Mas enfim, terminei de ler e de fato é um livro ótimo. 

O livro todo se passa "fisicamente" no lapso de um dia, um pouco menos, enquanto Heliseu, um velho professor de uma matéria tão velha quanto - filologia românica - se prepara para receber uma homenagem na Universidade onde passou toda sua vida.

Nesse período em que ele se prepara acompanhamos seu pensamento que tenta formar um possível discurso enquanto percorre todas as memórias de sua vida, seu casamento, seu relacionamento com o filho, seu caso com uma orientanda de doutorado.

No eixo de seu pensamento está a renúncia do Papa Bento e o pensamento de que "se até o Papa renunciou tudo é possível", a ideia de que essa ruptura é tão significativa que a própria estrutura da sociedade se desfaz.

Essa estrutura de dois tempos - o físico e o mental - que Tezza já vem explorando em outros livros é bem curiosa e permite trabalhar a loucura da nossa mente revisionista que consegue repassar tudo que vivemos em um dia. 

Vale notar que tudo que é "pensado" no livro se passou pelo filtro pouco objetivo da memória do personagem. 

É isso, independente do seu estado de espírito, leia Tezza, é um baita autor que merece ser conhecido.



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