quinta-feira, 14 de junho de 2012

Terapia


Acompanho o trabalho de Mario Cau há vários anos.

Sempre achei ele um quadrinista nato. Ele sempre mandou muito bem na narrativa visual e na diagramação de suas páginas. Acho que não conheço ninguém que tenha lido algo dele e não tenha elogiado de cara suas páginas.

Mas por muito tempo achei que era só isso. O desenho dele tinha muito estilo, mas parecia ser só isso, muito estilo e a técnica ficava a desejar. O desenho tinha sempre um ou outro problema de proporção, anatomia, ou mesmo uma certa indecisão sobre assumir um gosto por um visual mais "mangá" ou não. Mas tudo isso ficava de certa forma oculto, tudo era compensado pelo estilo e pela narrativa visual.

Quando ele lançou Nós pela Balão Editorial do meu amigo Guilherme fiz uma resenha para o UHQ com críticas até bem severas, apontando problemas que aparecem em uma leitura mais atenta, mas que se compensavam novamente com o estilo e a narrativa.

Há um ano Mario Cau começou junto com Rob Gordon e Marina Kurcis a publicar no site coletivo Petisco a HQ Terapia.

Esse é um trabalho admirável em vários níveis. Primeiro que o roteiro é mais equilibrado que as HQs anteriores de Mario Cau que eram carregadas por uma melancolia desmedida - a primeira vez que eu li Pieces pensei: esse cara precisa de um abraço, uma cerveja ou qualquer coisa que impeça ele de se matar.

Segundo que aqui Mario Cau apresentou um desenho muito superior ao que tínhamos visto até agora, mais competente tecnicamente, mais cuidadoso e, lá pela segundo capítulo ele partiu para um experimentalismo visual que tornou a série obrigatória.

Na real a primeira página da HQ já apontava para isso, mas demorou um pouco para realmente sair da normalidade e passar para o extraordinário.

Pinturas com técnicas diversas (como essas aqui: 1 e 2); a famosa narrativa visual (ótimo exemplo aqui); um belo trabalho com letreramento (aqui); perspectivas nada óbvias (aqui) e até pequenas obras de artes quadrinhescas onde tudo está certinho como ela página linda aqui.

Minha única crítica a Terapia é algo que chega a ser injusto de se criticar. Terapia é muito bom e te faz querer ler a história inteira na sequência, mas isso não é possível porque sai uma página por semana. Terapia é uma pedra de crack que vicia instantaneamente e te abala muito o fato de ter que ler uma página por semana. Até a narrativa da coisa fica muito prejudicada se você ler uma página por semana.

Mas, novamente, é injusto criticar isso, os autores fazem a HQ de bom grado, gratuitamente e oferecem uma qualidade que já é acima do normal.

Eu acredito que a forma ideal para ler Terapia é quando fecha cada capítulo - e o aplicativo que eles usam na página da HQ facilita bem isso permitindo a navegação por capítulos -, mas nada impede de se olhar de vez quando as páginas que Mario Cau está fazendo, não precisa ler, faça isso depois quando puder embalar na história de um capítulo inteiro, mas admire o trabalho do rapaz, porque a muito a aprender ali.

(A tradicional crítica de que quadrinhos para web deveriam fugir do formato de papel para impressão porque não se adequa aos computadores recentemente vem sendo descartada por conta da leitura em tablets que comportam bem o formato mais tradicional usado em quadrinhos impressos)

Um comentário:

  1. [...] TErapia por Zé Oliboni by mariocau on 15 de junho de 2012 at 10:02 Posted In: Blog O grande Zé Oliboni, colunista do UniversoQ, postou essa semana no seu blog uma resenha de Terapia. Veja nesse link! [...]

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