Diletante Profissional: Essa farsa chamada Talento

Essa semana eu terminei de ler o Incolor Tsukuru e até fiz uma resenha aqui.

Eu queria retomar uma frase do livro que eu coloquei no post.

"Talento é como um tipo de recipiente. Por mais que a pessoa se esforce é difícil mudar o seu tamanho. E nele não cabe água acima de uma determinada quantidade."

Eu considero o Murakami um grande artista e a gente tende a se inspirar em grandes artistas e quando ele coloca uma frase dessa no livro dele, no contexto em que estava, é muito pesado.

Com essa frase Murakami impõe um limite, traça uma linha que diz: não adianta trabalhar, não adianta estudar, você no máximo vai chegar nesse limite que deus/genética/destino/crença de sua preferência estabeleceu. Ou seja, uma pessoa com um "grande talento" pode não chegar a lugar nenhum se não trabalhar para encher o seu recipiente, mas uma pessoa com um "talento pequeno" certamente não vai passar daquele ponto, não importa o que faça.

Dentro da cultura japonesa, essa frieza, esse 8 ou 80, esse pensamento "melhor ser um pedreiro esforçado do que ser um engenheiro mediano", talvez de fato predomine e talvez o pensamento de Murakami seja até reconfortante nessa lógica.

Eu não gosto desse pensamento. Realmente não gosto.

Você pode tentar olhar de várias formas, pensar que você não sabe o "tamanho do seu recipiente" então você não vai saber quando ele estará cheio, mas no fundo, se você concordar com isso, sempre vai chegar em um ponto do seu aprendizado que você empaca por um tempo e pode pensar: será que esse é o limite? será que eu nunca vou passar disso?

E dependendo do ponto que for, dependendo da sua maturidade, isso pode ser algo devastador.

Principalmente nessa área super mística chamada "talento".

Eu comecei a olhar várias citações sobre talento e achei todas que vi idiotas e/ou religiosas.

Separei essa, que é menos pior, mas que ainda ressoa com o que o Murakami disse.

"O trabalho duro vence o talento quando o talento não trabalha duro"

Sério, eu conheço pessoas realmente prodigiosas, que algo têm que você pode chamar de facilidade. Mas essas pessoas realmente boas tem algo muito maior do que o suposto "talento" elas têm paixão pelo que fazem e veja, não estou romanceando aqui, porque é dessa paixão surge um resultado prático: elas fazem muito o que gostam; muito, muito mesmo; elas estudam demais, erram demais, observam demais outros fazendo. É essa paixão que leva facilita o esforço que é necessário para realmente ser bom.

Enfim, é isso.

Eu vi essa tira na internet esses dias, é desse site Three Panel Soul da dupla Matthew Boyd (texto) e Ian McConville (arte).

essa tira ilustra o que eu estou falando aqui e está mais sintonizada com o que eu acredito.