quarta-feira, 13 de abril de 2011

As mentiras que os homens contam

Falando sobre o nobre amigo João me lembrei de algo sobre teatro e o bom gosto.

Há vários anos assistimos no TBC a primeira montagem da peça As Mentiras que os Homens Contam. O texto de Marcelo Rubens Paiva era uma ótima adaptação da divertida coletânea de contos de Luís Fernando Veríssimo.

As mentiras que os Homens contam é, sem dúvidas, uma das melhores comédias que eu já vi no teatro. Piadas boas contadas com o ritmo certo em uma montagem simples e funcional. Era algo com cara de anedota e com um charme a mais – o exato espírito dos contos do Veríssimo.

Até hoje sempre que encontro o João lembramos as piadas do enterro do gaúcho, do “Tio Jesus” e a “Vó Maria” e os clássicos “homi que é homi”.

Lembro que na época não dei o devido crédito ao trabalho de Rubens Paiva. Como o livro do Veríssimo é uma coletânea muito boa, considerei que não havia grandes segredos em adaptar os contos em esquetes teatrais. Bastava escolher os melhores textos e pronto. Os atores ensaiariam aquelas falas bem orquestradas e o sucesso estava garantido.

Só recentemente descobri o quanto o bom texto, a sensibilidade e o bom gosto de Rubens Paiva garantiu a qualidade daquela montagem.

Bastou assistir a nova adaptação do mesmo livro – batizada de Por que os Homens Mentem? – para entender que, até os excelentes contos do Veríssimo poderiam resultar em uma comédia fraca, quase sem graça e com um tanto de mau gosto.

Essa nova adaptação feita com uma companhia de Itu, começa mal em vários sentidos: no fundo do cenário há um banner com uma montagem visual muito mal feita de fotos de clichês masculinos – cerveja, dinheiro, futebol e mulheres -; optam por não ter mulheres no elenco, assim, se nada der certo, as pessoas riem do ridículo dos atores transvestidos de mulheres; e a primeira esquete é interativa com a platéia, o que pode dar muito errado e constranger o público.

O restante da peça também não ajuda. As piadas não têm um bom ritmo e caem em um dos piores pecados da comédia: não saber quando parar. Em um grupo de cinco atores, dois se mostram bons e ou outros três apenas razoáveis.

Na tentativa de guardar o melhor esquete para o final acabam arrancando risada da platéia novamente por causa do ridículo que se sujeitam: a cena é uma reprodução da TV Macho da TV Pirata e segue bem morna até o momento óbvio em que os machões se revelam se acabando ao som de Village People.

Nada contra a tentativa do grupo de inovar e não usar a adaptação já existente para teatro, o que dá dó é ver um texto tão bom, tão cômico por si só, ser tratado com mau gosto e se pautar no riso pelo ridículo.

PS.: Frase da versão nova da peça para quem tem amigos campineiros: “Isso não é rosa, é azul campinas

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