quinta-feira, 7 de abril de 2011

David Foenkinos

Guilherme Kroll uma vez me disse que eu tenho obsessão por “voz literária”. Acontece que várias vezes em que comentei para ele livros que gostei muito e que queria que ele conhecesse usei esse termo.

Não sei se o termo técnico é bem esse, nunca me lembrei de perguntar a um especialista (no caso o Diego Figueira que, com alguma sorte, poderia comentar esse post e esclarecer se o termo que eu estou usando é adequado para o que quero dizer).

Mas enfim, chamo de voz literária o jeito que o texto “soa” na minha cabeça, a “voz” que eu ouço narrando o texto enquanto eu leio – ok, falando assim parece mais com um caso de esquizofrenia do que qualquer outra coisa, mas preste atenção quando você lê algo, a forma como aquilo toma corpo na sua mente.

Pra mim, isso que eu chamo de “voz literária” ou mesmo estilo, é o que diferencia um texto muito bem escrito de um com cara de redação de colégio. Aliás essa é uma das coisas que eu percebo que não tenho nas minhas tentativas de escrever um conto ou algo assim, sinto que falta esse diferencial que transforma uma boa ideia em um bom texto literário – por isso hoje em dia eu prefiro só ler e parei de tentar escrever.

Um bom exemplo dessa voz literária é um autor que me encantou completamente o ano passado. Recomendei para diversas pessoas, presenteei um amigo com um livro dele, indiquei em vários lugares, mas acho que ainda merece mais essa indicação: David Foenkinos.

Pra mim, a maior dificuldade para “vender” Foenkinos para os amigos é que seu livro mais bonito chama-se Em Caso de Felicidade, um título que é perfeito para o livro, mas que tem uma cara absurda de livro de auto-ajuda.

Em Caso de Felicidade é uma história de amor pitoresca sobre um casal francês relativamente comum. Mais do que isso, ele trata da forma como lidamos com a felicidade, a nossa e a dos outros.

Tudo nesse livro é bom. Os coadjuvantes têm histórias redondinhas e, em alguns casos, tão interessantes quando dos personagens principais. Tem um quê de surreal na história, apesar de ser bem cotidiana. E, o mais importante, é escrito – e traduzido – com uma sutileza ímpar.

Não se trata apenas de um livro bonito, com uma boa história, é um livro onde o texto merece elogios a parte. Eu sempre insisto nesse elogio: cada frase de Em Caso de felicidade é bonita, é digna de ser destacada e usada como citação.

Costumo recomendar com um pouco menos de entusiasmo o outro livro dele: O Potencial Erótico da minha Mulher.

Também é um livro excelente com uma história divertidíssima. O pitoresco, o fantástico, os coadjuvantes memoráveis estão lá. O livro também é bem escrito, mas não tanto quando Em caso de felicidade.

Como eu sei que a maioria das pessoas não dedica tanto tempo a leitura por prazer (leitura por motivos não profissionais), prefiro recomendar Em Caso de felicidade, pois, se você vai ler apenas um livro de Foenkinos, que seja logo o melhor deles.

PS.: Acho que não poderia existir coincidência mais feliz do que essa. Fui dar a busca nos livros de Foenkinos para fazer os links desse post e descobri que a Cia. das Letras lançou mais um livro dele: A Delicadeza. Não sei o que vou fazer com a minha fila de leituras. Mas esse tem que entrar nela, e logo!

Um comentário:

  1. [...] Foenkinos é um dos meus autores favoritos – já falei sobre ele aqui – e considero seu Em Caso de Felicidade um dos três livros que eu mais gostei na [...]

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