segunda-feira, 16 de maio de 2011

Como a Conrad me transformou em um fora da lei

Sempre fui uma pessoa cumpridora dos meus deveres e respeitador das leis, mas a Editora Conrad me levou a marginalidade, ou pelo menos a criminalidade virtual.

Ok, não é justo colocar toda a culpa na Conrad. Outras editoras como a Panini, Devir, Mythos, Pixel, Via Lettera, HQM e qualquer outra que tenha começado a publicar uma HQ e parado repentinamente pode ser arrolada como co-autora no ato de incitação à pirataria.

Isso pode parecer absurdo, afinal, por que editoras que vivem justamente da venda de materiais oficiais, com licenciamento caro, levariam seus clientes a procurar sistemas ilegais de downloads?

A resposta para isso é muito simples: falta de planejamento editorial e de consideração para com o leitor.

Vamos juntar tudo e esclarecer.

A maior parte das histórias em quadrinhos se calca no vício do leitor na história. Salvo aquelas HQs feitas para ser uma única edição, os quadrinhos são geralmente séries e muitas vezes, um dos critérios para se julgar a qualidade de uma dessas séries é a sua habilidade de prender o leitor, de fazer ele continuar comprando os números seguintes.

Existem até técnicas específicas de narrativa para montar uma história de forma que ela sempre termine a edição com um “gancho” (“cliffhanger” em inglês) para o número seguinte. Quanto mais planejada a história, mais forte é o gancho e maior o poder “viciante” dessa HQ.

Quando uma editora assume a publicação de um título ela leva em conta, entre outros fatores, a habilidade da HQ de fazer o leitor continuar comprando. Contudo, justamente essa característica é deixada de lado quando se decide abandonar um título na metade.

De tantas hqs que nunca descobri o final, foi justamente Monster, publicado pela Conrad e rececente anunciado o “abandono” oficial, que me levou a pirataria.

Esse mangá é um thriller de suspense/terror muito bem construído que teve dez números publicados no Brasil em 2006 e depois sumiu junto com outros títulos repentinamente descontinuados pela editora.

Sem explicação até essa nota mais recente, quem comprou o mangá e se prendeu com sua história ficou se saber como acompanhá-lo.

Eu nunca fui um grande adepto a pirataria. Sou cliente de locadora de dvd (a netmovies no caso), compro revistas e livros importados e nunca me liguei em ter um banda larga muito poderosa por não ser uma real necessidade na minha vida.

Mas Monster é um caso a parte. A série é extremamente viciante e não teria como saber como terminaria aquela trama que tanto me cativou até que um amigo me enviou de presente um punhado de dvds com a série completa em animê (animação japonesa geralmente baseada em um mangá).

Nunca foi minha intenção, mas fui levado a esse ato de ilegadade - pode haver todo o tipo de justificativa filosófica/teória pró-pirataria, mas, até que mude-se as leis, esse tipo de compartilhamento de arquivo é contra a lei.

Pode parecer apenas uma reclamação de fã chato e é bem fácil dizer que as editoras não precisam publicar nada que lhes cause prejuízo, além de estarem sujeitas a diversas condições que fogem do controle. Contudo, as editora tem sim sua parcela de culpa em tudo que cancelam.

A grande questão não está no ato de cancelar, mas na levianidade com que séries longas são iniciadas.

Sem muito planejamento e sem o menor comprometimento com o leitor, as editoras publicam um título para ver como ele se sai nas vendas. Se for bem ele continua, caso contrário as pessoas que começaram a ler ficam desamparadas.

Cada editora que começa um título sem saber se ele chegará até o final causa um prejuízo muito grande para a credibilidade do mercado nacional de quadrinhos. Como esperar que um leitor invista um quantidade razoável de dinheiro e tempo em títulos que ele não sabe se verá o fim?

Por que o leitor começaria um título que talvez ele tenha que procurar meios ilegais para continuar? Então que se abandone logo a revista oficial e parta direto para a pirataria.

Da mesma forma que as editoras usam o leitor para testar seus títulos, o leitor pode usar o trabalho de pesquisa de das editoras como guia para suas buscas na internet.

Outra questão interessante nessas séries longas é que elas começam a ser publicadas sem grandes anúncios, sem um trabalho sério de mercado e, quando vários leitores começam a elogiá-la lá pelo terceiro ou quarto número, o potencial cliente atraído pelo “boca-a-boca” tem muita dificuldade para encontrar as primeiras edições. Recolhidas, guardadas no estoque de alguma editora, no momento de maior potencial para a série se firmar, ela não consegue agregar leitores porque ninguém quer pegar algo no meio.

Vale dizer que esse processo de falta de credibilidade vem de muito tempo atrás e será difícil de revertê-lo. Mas, enquanto as editoras não estudarem profundamente o seu mercado consumidor e não investirem mais tempo em planejamento, elas continuarão  incentivando os leitores para a pirataria.

2 comentários:

  1. Eu compro edições fechadas, definitivas e, no caso de mangá, apenas os que já tem um pequeno número de edições. Astral Project, por exemplo, que tem 4 edições e duas já nas bancas. Mensais eu baixo mesmo.
    Fico um tanto decepcionado com a Devir, que esqueceu The Boys e com a Panini, que abandonou "Os Perdedores" e não continua "Transmetropolitan".

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  2. Não vou ser hipócrita: já li muito mangá no PC. Mas, se gostava, comprava a edição nacional. É o caso de Hunter X Hunter, Fullmetal Alchemist, Gantz, Kekkaishi, Tenjho Tenge e Nana. E é muito chato quando a edição nacional é descontinuada (felizmente, parece que ainda não é o caso desses).

    Lia One Piece e Monster emprestados de um amigo e agora acompanho o primeiro pela internet. Vou ter que começar a ler o segundo online também, pelo visto. Se continuar assim, daqui uns dias, vou ter que fazer a mesma coisa com Battle Royale.

    E as edições que eu comprei estão lá, estacionadas na estante, incapazes de me contar o final das histórias.

    A publicação irresponsável de séries longas me levou à pirataria também com os quadrinhos norte-americanos. Bone eu li todo no PC porque as edições nacionais, além de caras, saem só de vez em nunca. Fábulas eu baixei os encadernados 2 e 3 porque foi impossível achar as edições nacionais da Devir. Já estou cogitando baixar Planetary também, além do segundo encadernado de Frequência Global.

    Queria muito ter todas edições dos meus quadrinhos em casa, no papel, mas se as editoras continuarem com essa política de descontinuar as séries longas, fica difícil.

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