quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Falar Sozinhos

Taí, outro livro bacana de um argentino que eu ganhei do Diego Figueira. 

Primeiro eu tenho que dizer que é meio difícil ser imparcial com Falar Sozinhos de Andrés Neuman porque ele de cara tem duas características que eu amo em qualquer livro: é curto e trabalha com múltiplas vozes narrativas. 

Nada contra a onda de livros gigantescos que assola as listas de best-seller, mas eu sou partidário do livro curto. 

No livro curto já se começa no meio e termina antes do fim. O livro curto é enxuto, é cuidadoso com o que vai contar, delicado com as palavras. 

Andrés Neuman é assim, o texto tem o necessário para ser um prosa com uma história devidamente contada e, ao mesmo tempo, sem cair nos excessos que muitas vezes matam a poética que faz os melhores textos brilharem. 

A voz narrativa é minha outra paixão, vou exemplificar o que eu quero dizer com o próprio Falar Sozinhos

Nele o autor conta a história através de três narradores, o Mario (o pai que está morrendo), Elena (a mãe que tem que lidar com a morte de Mario) e Lito (o filho que não sabe o que está acontecendo mas parte para a última viagem de caminhão com seu pai).

Agora, simplesmente narrar a história de três pontos de vista é fácil, a beleza está quando pelo texto você sabe quem é o narrador, quando o autor cria vozes tão distintas que de fato parecem três pessoas diferentes escrevendo aquelas palavras. 

A proposta de Andrés é muito interessante, são três pessoas vivendo a mesma situação e falando sozinhas sobre essa história de forma complementar. Mario conta através de uma gravação que ele deixou para seu filho ouvir quando for maior. Lito pelos olhos de criança onde tudo é uma aventura. E Elena, que carrega o maior peso, tem que lidar com o presente e o porvir, então se afoga em seus livros e deixa as citações a retratarem.

O livro é lindo, vale muito a pena. Compre aqui na Cultura ou aqui na Saraiva

Logo abaixo uma série de citações que eu recortei do livro.





"Nos trabalhos, filho, diz ele, há muitas coisas que não têm sentido. Por isso mesmo que lhe pagam, entende?"

"Temo que existam dois tipos de alienação: a do trabalhador explorado e a do trabalhador de férias. O primeiro não consegue pensar, lhe falta tempo. O segundo só consegue pensar, e esta é a sua condenação."

"estou começando a confundir beleza com juventude"

"não sei para que diabos ensinamos nossos filhos a se comportar como nós, se já sabemos que não somos felizes"

"Busco responsabilidades porque não consigo ser responsável por mim."

"E quanto mais culpa sinto, mais repito para mim mesma que eu também mereço alguma satisfação"

"Quando um livro me diz o que eu queria dizer, sinto o direito de me apropriar de suas palavras, como se alguma vez tivessem sido minhas e estivesse as recuperando."

"Ninguém se salva do E se. E nenhum E se salva ninguém."


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