segunda-feira, 6 de abril de 2015

Consertando Frank

Assisti esse fim de semana Consertando Frank, uma peça com uma premissa bem interessante: um jornalista que se submete a uma suposta "cura gay" de um terapeuta como experiência para um artigo.

A proposta é bem sugestiva, fui esperando mil coisas e, mesmo assim, a peça me surpreendeu.

Saí de lá com uma sensação de que esse foi um texto escolhido a dedo e muito necessário para esse momento em que vivemos.

Explico: a peça não é só sobre a "cura gay", essa é apenas a superfície da peça, ela é, de uma forma mais geral, um exemplo prático dos problemas do militantismo cego. 

De um lado do palco temos o Dr. Apsey, ou Dr. Frankenstein, - interpretado por Henrique Schafer - um psicólogo que oferece um tratamento para quem quer deixar de ser homossexual; do outro temos Jonathan Baldwin - interpretado por Rubens Caribé - um psicólogo ativista dos direitos dos homossexuais que tomou como missão de vida acabar com o tratamento de Apsey.

No meio desse cabo de guerra está o jornalista Frank - Chico Carvalho - que entra na cruzada por influência de Jonathan mas acaba sendo usado e manipulado pelos dois lados.

Veja, não que a peça defenda a "cura gay", muito pelo contrário, Consertando Frank humaniza e abre espaço para que os dois lados mostrem seus pontos. 

A grande questão é que, enquanto Jonathan é um militante movido pelo ódio cego,  Apsey é um homem tranquilo e controlado exercendo sua profissão de forma ética e honesta.

Você pode discordar e dizer que a própria sugestão de um tratamento de "cura gay" é uma abominação, mas todo argumento cai por terra com a proposta de Apsey de que ele apenas quer que o paciente seja feliz, seja em um relacionamento homo, hétero ou sem relacionamento algum, Apsey oferece uma escolha e um acolhimento para quem quer optar por isso ou aquilo. Ele não sai na rua catando pacientes para "convertê-los", ele não defende com todas as suas forças a heterossexualidade, ele apenas está lá, como uma opção. 

Ao contrário de Jonathan que pega os pacientes na rua e os leva não para uma aceitação, mas para um verdadeira conversão homossexual.

Nesse momento em que vemos tanta gente militando politicamente com extrema ignorância, violência e, muitas vezes, agindo apenas por influência de um lado que quer vencer a todo o custo. Essa peça é necessária para retomar o antigo debate: até que ponto os fins justificam os meios e em que momento você se torna pior do que aquilo que está combatendo?

Óbvio que não faltam, livros, quadrinhos, filmes e séries sobre esse tema, mas a peça em si tem muito valor. 

A montagem é bem bacana. Tem um conceito interessante de que nas cenas em que Frank está sozinho com Apsey, Jonathan está "presente", não fisicamente, mas como uma voz na cabeça manipulada de Frank e vice e versa quando Frank começa a concordar com Apsey.

É muito bem pensada essa estrutura de encenação e tem até um momento didático para deixar claro que um dos personagens está apenas na cabeça de Frank.

Vale a pena assistir a peça. Henrique Schafer e Chico Carvalho estão excelentes nos papéis, Rubens Caribé está um pouquinho abaixo da qualidade de atuação dos colegas, mas nada que prejudique. 









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